Jerzy Grotowsky

Antes que um actor seja capaz de atingir um acto total, ele tem que cumprir uma série de requisitos, alguns dos quais são tão subtis, tão intangíveis, que se tornam praticamente indefiníveis por palavras. Eles só se tornam simples através da aplicação prática. Este acto não pode existir se o actor estiver mais preocupado com o charme, o sucesso pessoal, aplausos e salário do que com a criação tal como é entendida na sua forma mais elevada. JERZY GROTOWSKY
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21.12.06

Porquê fazer Artaud?

A estética teatral escolhida para este espectáculo foi o Teatro da Crueldade, formulado nos escritos de Antonin Artaud. Enquanto perspectiva artística, preconiza a aproximação do espectáculo ao público, propondo que a acção se realize em diferentes níveis e direcções, permitindo a sua simultaneidade, o envolvimento físico do público e sua interacção. Em Artaud o espectáculo é entendido como um ritual que tem como objectivo provocar sensações, maximizando-as por diversas vias, como a iluminação, a música, os figurinos ou a criação de ambientes. No Teatro da Crueldade o actor é apenas mais um instrumento do espectáculo. É um veículo de sensações e deve transportar impulsos sensitivos ao espectador até que este atinja o transe. É ele que deve fazer o espectador gritar. Mas para obter sucesso na sua performance o actor deve saber em que músculo se reflecte cada sentimento a transmitir, aliando a sensação à composição de posturas expressivas, assumindo-se como um “atleta do coração”. Relativizando a ideia do trabalho de direcção, no Teatro da Crueldade a relação de improvisação do actor com os elementos cénicos é bastante intensa, o que remete para a importância da organização dos constituintes da encenação. O espectador deve sentir até não aguentar mais, gritar e expurgar as emoções recalcadas para que reaprenda a pensar e tome consciência do mundo. Neste sentido, e como a principal função do teatro é “agitar consciências”, interessa-nos, também, debater as condições de vida e existência dos doentes em geral, centrando-nos na análise de um sistema cultural, a medicina. Como dizia Karl Popper, a ciência começa e termina sempre por problemas, mas por vezes revela-se incapaz de se pensar a si própria, por julgar ser o seu conhecimento o único reflexo do real, como completou Edgar Morin.

Antonin Artaud nasceu em Marselha no dia 4 de Setembro de 1896. De saúde frágil, sofreu as primeiras crises mentais aos 16 anos. Após 6 anos de internamento, reuniu os seus primeiros poemas sob o título Tric Trac du Ciel (1924). Contactou com Breton, que acabara de publicar o primeiro manifesto do surrealismo, e aderiu ao Movimento Surrealista. Quatro anos depois, entrou em ruptura com o movimento e fundou o Teatro Alfred Jarry. Apareceu, como actor, em filmes de Dreyer, Gance e Morat. Entretanto foi dando à estampa poesia, novelas e ensaios acerca do denominado Teatro da Crueldade. Fracassado no seu país, Artaud partiu para o México – de onde regressará apenas em 1937. Por essa altura, levou em Dublin uma existência absolutamente precária. Expulso da Irlanda, no regresso a França foi detido e conduzido ao asilo de Sotteville-lès-Rouen. Viria a permanecer 10 anos em absoluto recolhimento, a maior parte dos quais em Rodez. Em 1947, de regresso a Paris, era já aclamado como um dos grandes visionários do teatro contemporâneo. Faleceu no dia 4 de Março de 1948.


1 comentário:

Unknown disse...

o bom mesmo! continue com temas interessantes assim!